O machismo de cada dia: Reivindicar é resistir
Por Marilene Marçal
Oxalá! Um tempo de não precisarmos de data para demonstrar que falta muito. Por vários séculos, fomos silenciadas. Esse silêncio não ocorreu somente na fala, mas de diversas formas: em cada atitude ou expressão realizadas por nós. Ser mulher sempre exigiu um cuidado excessivo com todo e qualquer detalhe da vida cotidiana. “Senta que nem moça”, “Comporte-se como uma dama”, “Deve estar saindo com o chefe”, “Até que você dirige bem”, “Consegue conciliar filhos, casa e trabalho?”, “Só podia ser mulher”, “Seu marido não se importa de você trabalhar fora?”, “Deve estar de TPM”, “Por ser mulher, até que você é competente”, e assim seguem as infinitas frases machistas que fomos submetidas a ouvir ao longo de séculos.
O machismo de cada dia assombra todas as gerações. Com o avanço de conquistas e discussões acerca do tema, ele tende a se apresentar nas entrelinhas: nas piadas, no assédio moral, na desvalorização do trabalho desenvolvido por uma mulher, nos questionamentos sobre suas decisões, nos comentários maldosos sobre suas vestimentas, claro que, muitas vezes, de forma bem sutil.
No mundo corporativo, essa situação tende a ser ainda mais oculta. Quem nunca presenciou uma mulher ser interrompida em uma reunião enquanto argumentava algo importante? Porque somos minoria no Congresso quando somos a maior parte da população? Qual seria o motivo para haver diferença remuneratória entre os gêneros? Por que devemos explicar nossas decisões se os homens simplesmente são livres para escolher os seus caminhos?
Antes de formular qualquer resposta às perguntas, reflita sobre o homem que você está sendo para a sociedade. O machismo não é prejudicial apenas para nós, mulheres, mas para toda a sociedade. O preconceito que estabelece que nós somos inferiores é o mesmo que sugere que um homem deve ser forte emocionalmente, em outras palavras: ele, como um ser humano, não poderá chorar em público sem ser ridicularizado.
Negar a existência do machismo é desrespeitar a história da humanidade. Não tínhamos direito ao voto, não podíamos trabalhar sem a autorização do marido, não era uma realidade o direito ao divórcio, não havia dependência financeira, nem sequer tínhamos poder para decidir sobre as nossas vidas. Se você não é capaz de enxergar o machismo no seu dia a dia, reflita: sou um homem, eu jamais entenderia o que é ter a existência censurada desde o início da humanidade. O 8 de março não tem outra serventia a não ser o da reflexão: as nossas atitudes combatem ou potencializam o machismo? A desigualdade de gênero interessa a quem?
Reivindicar é resistir!